quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Descobrindo o amor

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4 jan

Principe Luigi

Descobrindo o amor

Já li muitos contos bem interessantes aqui e posso dizer que alguns me fizeram mudar a maneira de ver alguns acontecimentos da vida. Resolvi enfim contar a minha história. Peço até que se possível comentem para eu saber se a forma como a estou escrevendo está agradando a maioria – quanto ao conteúdo não há como mudar –, porque nunca escrevi uma. Até hesitei um pouco em escrevê-la, porque sou muito autocrítico. De qualquer modo, serve como um desabafo.
Outra coisa, como os diálogos eram inicialmente em italiano, eu tive de adaptá-los ao português informal.

PS: Os primeiros capítulos são como um diário de viagem e descrevem o caminho até eu descobrir o amor, por isso, não contêm, digamos, um conteúdo erótico, mas são relevantes para entender o que senti. Mesmo assim fiz o possível para ser o mais sucinto. Já escrevi uma grande parte no Word e vou tentar terminar o mais breve possível.

4 jan

Principe Luigi

Introdução

Sempre ouvi esta frase: nada é por acaso! E sempre achei que ela servia como uma desculpa para tudo o que não dava certo. Hoje tenho a certeza de que nada realmente foi por acaso. Por uma sucessão de acontecimentos, o destino me levou a conhecer uma pessoa maravilhosa, o Lucca. Mas para chegar a este dia, muita coisa teve de dar certo. Se eu não tivesse ido, ou se não tivessem me acenado, ou se eu tivesse evitado, ou... Qualquer acontecimento que tivesse sido diferente e talvez o destino não teria feito com que eu descobrisse o amor.
Tenho 26 anos, sou loiro, 1,86m, olhos verdes e corpo relativamente definido. Relativamente porque nunca fui de malhar, tento fazer uma boa alimentação e curto caminhar e andar de bicicleta. Nos tempos de colégio, joguei vôlei nos campeonatos intercolegiais por anos, e na faculdade continuei jogando, embora só por diversão, e arriscava um futebolzinho, mas devido a minha mediocridade nos passes ficava mais no gol. Sou um pouco tímido e nunca gostei muito de pensar se sou ou não bonito. Muitas pessoas diziam que só não namorava ou pegava muitas garotas porque não queria. Já beijei muito na boca, tive curtos namoros, mas nunca tinha amado alguém. Geralmente curtia o momento, mas sempre que a mulherada pegava no pé eu desencanava. Quanto aos garotos, tirando uns beijos “inocentes” num primo e num vizinho, nunca tinha tido qualquer relação. Tive umas paixões platônicas por colegas de classe ou caras do colégio, mas só ficavam na imaginação.

4 jan

Principe Luigi

Capítulo I – A viagem

Desde que tinha terminado a faculdade, planejava ir para a Itália. Tinha ido já umas duas vezes quando criança, mas não me lembrava muito. Queria estudar, trabalhar e, no fundo, viver sem máscaras. Tinha nesta viagem um meio de viver sem medo de ser julgado ou analisado. Não deixaria as convenções ditarem a minha vida.
Enfim, depois de muito penar para conseguir juntar a grana para a passagem e para me manter na Itália no começo – claro que seria mais fácil por ter cidadania italiana –, consegui realizar meu sonho. Não sei por que, mas tinha a sensação de que nesta viagem poderia viver sem me esconder, de que encontraria o amor. Eu, com 25 anos até então – já que minha história começa no fim de fevereiro do ano passado –, tentava me encontrar profissional e pessoalmente.
Quando cheguei, fiquei na casa de um irmão da minha nonna. Lá morei quase mês com ele e sua mulher. Eles eram bem legais, mas, tirando a bela paisagem siciliana, não estava curtindo muito minha estada. Nós viajávamos bastante. Cheguei até a conhecer um primo um pouco mais novo, que também morava em Palermo. Esse primo não era muito chato, mas sei lá, por ser outra cultura, talvez, achei que ele era muito moleque. Acabei indo, por insistência do meu tio, com ela a uma festa. Foi uma barca furada, parecia aquelas brincadeiras dançantes do tempo do ginásio (nem sei se ainda usam este termo). Todo mundo sentado em rodinha em grupos de garotos e garotas. Enfim, um tédio! E uns papos...
Já estava achando aquela viagem um tempo perdido, no sentido de que sonhei muito com uma vida que nunca existiria. Tinha de fazer alguma coisa! Comecei a pesquisar uns cursos em outra cidade, a procurar albergues,... Em dois dias já estava com malas prontas para ir para Roma, onde encontrei um curso legal e um albergue acessível e perto do curso. Eles acharam que não era uma boa idéia ir sozinho, mas tinha de me virar, do jeito que estava não dava para ficar. Ou era isso, ou era voltar para casa.

4 jan

Principe Luigi

Capítulo II – Em Roma

Já à primeira vista Roma me pareceu a cidade que eu sonhava em viver. As pessoas eram diferentes, elas me pareceram mais abertas e modernas.
Cheguei ao albergue e fiquei num quarto com seis camas. Tinha gente do mundo todo. É claro que comecei a me animar.
Era sexta-feira e fui ao “Istituto” fazer matrícula para o curso de aprimoramento da língua italiana. Dei umas voltas na cidade e pensava que com certeza alguma coisa boa me aconteceria.
Passei o final de semana mais passeando que no albergue. Ainda no sábado chegou um finlandês para ficar no quarto que eu estava. Era um loiro lindo (tenho uma queda por loiros), puxou papo, mas o problema é que ele não sabia muito o italiano e o meu inglês é sofrível. Mesmo como numa torre de babel, foi com ele que mais conversei.
A segunda-feira chegou e com ela a esperança de fazer amigos no curso. No primeiro dia um desânimo bateu. Era um pessoal totalmente estranho. Um povo mais velho e o pior, um mais feio que o outro (ninguém é obrigado a ser bonito, mas nos meus planos estavam inclusos só os bonitos!). O curso era o dia inteiro e só voltava ao albergue à noite. Batia um papo fútil com os que eu encontrava e dormia cedo. Durante a semana acabei me simpatizando com alguns colegas da sala, mas nada que valesse a pena.
Finalmente, a sexta-feira tinha chegado. O curso era dividido em módulos independentes e semanais, e eu tinha a esperança de que a outra turma fosse mais animada.
Há quase dois meses na Itália e não tinha rolado nenhuma paquera ou olhares. Enfim, já estava achando que a parte ‘sexo-amorosa’ seria um fracasso total para mim.

4 jan

Principe Luigi

Capítulo III – A nova turma

Depois de mais um fim de semana paquerando estátuas, comecei o outro módulo e, graças ao senhor, com outra turma que parecia mais jovial. Embora menor, realmente era mais animada. Nos intervalos sempre vinha alguém conversar, sempre perguntando como era o Brasil ou palpitando sobre futebol. Um dos que mais conversei foi o Carlo. Ele sempre usava umas calças jeans justas e toda vez que sentava na minha frente, na hora de fazer grupo, eu ficava olhando as suas pernas. E que coxas! Eu tenho até certeza de que ele deve ter percebido. Bom, eu olhava mesmo! Não tinha nada a perder. Ele era o único que ficava me fazendo perguntas pessoais, tipo se eu tinha namorada, aonde costumava ir no Brasil, se as brasileiras e brasileiros (!) eram bonitos,... Eu achava que ele queria saber se eu era gay, mas não tinha coragem de perguntar. Cheguei a perguntar aonde ele costumava ir, para ver se ele me convidava, jogava indiretas, mas acho que ele tinha meio medo de rolar alguma coisa. Paquerei também uma moça maravilhosa da sala, aquela que parece top model, mas ela tinha namorado que a buscava todo dia na porta. Os outros e outras não me atraíram.
No último dia, a professora organizou um grupo para montarmos uma aula e acabei caindo com umas pessoas que mal tinha falado oi. Mas conheci uma garota muito legal, a Chiara. Ela era muito alto astral. Uma morena de cabelos lisos, que não servia como ponto de referência, mas de tão simpática acabava ficando mais bonita que à primeira vista. Na hora do almoço, como de costume eu ia a uma lanchonete, mas estava há muitos dias comendo só lanche e resolvi ir dessa vez a um restaurante um pouco mais afastado. Cheguei lá e o lugar estava lotado. Fiquei procurando uma mesa vaga e já estava quase desistindo quando vejo a Chiara me acenando. Fui até lá, ela estava com uma moça do grupo e me convidou para sentar junto com elas. Depois de matar a vontade de comer uma massa, ficamos conversando. Foi muito legal porque parecia que eu já a conhecia há tempo.

4 jan

Principe Luigi

cont.

Falei que queria arrumar um emprego, que até desencanaria do curso, que não tinha feito muitos amigos,... Enfim, em duas horas já sabíamos um pouco de cada um.
Voltamos e no final da aula o pessoal começou a se despedir, trocando e-mails e eu também peguei o de alguns. Estava na porta do prédio quando a Chiara me chamou:
- Luigi, o que você vai fazer hoje?
- Nada, por quê?
- É que é aniversário da minha irmã, ela vai comemorar num bar aqui perto e queria saber se você está a fim de ir?
- Claro! Mas não tem problema? Eu nem conheço a sua irmã!
- Imagina! É um bar tipo boate, vai ter bastante gente. É que você me disse que não tem saído. Pensei em te chamar, o pessoal é bem animado.
- Nossa! Valeu! Vou sim, só me passa o endereço e o horário.
- É perto daqui.
- Me fala teu telefone para eu poder confirmar. Vai que vocês mudam de bar.

Fui embora para o albergue e nos 20 minutos que fui caminhando só pensava no porquê dela ter me chamado. A fim de mim não era porque várias vezes ela falou do namorado e também não senti qualquer interesse dela na possibilidade de traí-lo. Acho que ela devia ser um anjo em passagem na Terra. Vai entender?!
Antes de chegar ao albergue, parei para comer alguma coisa. Lá eles só serviam o café-da-manhã. Enquanto me trocava, pensava várias vezes em não ir. Era loucura, não conhecia ninguém. Eu que tenho uma grande dificuldade em fazer amigos, ficaria deslocado. Mas não podia perder a única oportunidade que tive de conhecer novas pessoas. Liguei para ela às nove e ela confirmou que já estavam indo para lá.

4 jan

Principe Luigi

Capítulo IV – No bar-boate

Fui caminhando até o bar. Não sabia as paradas dos ônibus e claro que de táxi seria uma grana a mais. Bom, quem tem boca vai a Roma! Literalmente!
Cheguei umas nove e meia. Fiquei rodando pelo bar e finalmente os encontrei. De cara ela já foi me apresentando irmã, o pessoal todo e o seu namorado, Paolo. Um moreno de olhos verdes não muito bonito, mas bem charmoso, ombros largos, meio malhado. Todos foram muito legais, mas principalmente o Paolo, que toda hora puxava papo.
Depois de um tempo conversando com eles, a Chiara disse para ele:
- Paolo, você não falou que estão precisando de gente lá na empresa? Fala para o Luigi ir lá, ele está procurando emprego.
- Claro! Eu trabalho numa empresa de produção de eventos, não precisa ter experiência. Se você estiver a fim? A única coisa é que você vai ter de parar o curso.
- Mas eu não sei nada sobre eventos!
- Não se preocupe. Vá lá na segunda de manhã e faça uma entrevista. No começo você vai ficar mais lá dentro, mas eles estão precisando de gente para ficar nos eventos, para viajar. Posso até dar um toque.
- Seria muito bom! Minha grana já está acabando e o curso eu posso fazer depois.
Ficamos na boate até às três. Eles me deram carona para ir embora e já foram me dando o telefone. Enfim tinha conseguido fazer novos amigos!
Quando fui dormir, ficava só pensando em como as coisas são engraçadas, tinha novos amigos, quase um emprego. As coisas estavam realmente se encaminhando.
No sábado eles me ligaram, mas acabei não saindo. Não dava para ficar gastando a minha grana em bar. Para variar, fui paquerar estátuas.

4 jan

Principe Luigi

Capítulo V – O emprego

Na segunda-feira fui à empresa de eventos. Fiz a entrevista e até achei que seria difícil conseguir. Percebi que precisavam de pessoas com, digamos, boa aparência, claro que isto estava subentendido, já que na seleção havia muitos rapazes bonitos. Ficaram de me ligar depois.
Na terça-feira, enfim me ligaram (enfim porque parecia que tinha esperado uma eternidade!) e já começaria o treinamento no dia seguinte.
Fui todo feliz para o primeiro dia de emprego. E quem iria me ensinar tudo? Paolo! Ele ficava mais na parte administrativa, mas, como sabiam que ele quem tinha me indicado, o puseram para me ensinar.
Nos primeiros dias eu vivia na cola dele. Entre uma explicação e outra, conversávamos muito. Depois o tempo foi passando e nos víamos só às vezes. Por nenhum momento senti qualquer atração por ele, senti que ele era meu amigo mesmo.
Enquanto isso, nada mudou, exceto que comecei a procurar um lugar para morar, pois já não estava mais curtindo ficar no albergue.
Num belo dia, já curtindo o trampo e o meu novo lar, mas ainda sentindo que havia algo que faltava, encontrei o Paolo no refeitório. Fato raro porque há algum tempo ele estava almoçando fora. Fui até a mesa dele e disse:
- Ow! Tudo bem? Fazia tempo que não te via no almoço.
- Tudo certo! Mas você também sumiu.
- Putz! Naquele dia em que você me ligou, estava acabando de arrumar minhas coisas no apartamento. Aliás, vocês estão me devendo uma visita. É pequeno, mas cabem vocês nele.
- Nós vamos sim. Ah! Foi bom que você apareceu, porque ia te ligar ontem, mas acabei não tendo tempo.
- O que foi?
- Amanhã é meu aniversário.
- Sério?
- Então... nós vamos a um pub bem legal que abriu. Tá a fim?
- Claro!.
- A bom! Achei que ia dizer que não iria.
- Paolo, eu sei que tenho falhado com vocês, mas mesmo não tendo de comprar móveis, tive de pagar o primeiro aluguel adiantado. Mas pode deixar que agora já estou me recuperando e não vou mais deixar de ir às baladas com vocês.

4 jan

Principe Luigi

cont.

(Naquele mês que estava na empresa, tinha ido só duas vezes a um barzinho com eles, e mesmo assim durante a semana, mas nunca deixávamos de nos falar.)
- Se você quiser, eu passo para te pegar, pelo que você me disse é perto da casa da Chiara.
- Ótimo! Mas não vou te tirar do caminho mesmo.
- Não. Fique sossegado. Ah! Outra coisa, não sei se você se lembra, naquele dia do aniversário da Anna – a irmã da Chiara –, de eu ter falado do Lucca?
- Lucca?
- Um amigo meu que estava supermal.
- Eu acho que lembro (lembrava vagarosamente, ouvi dizer que ele tinha tomado uns chifres da namorada há poucos dias), o que é que tem?
- Ele é meu amigo de infância, tem a nossa idade. Você ainda não o conhece porque naquela semana do aniversário a noiva dele disse que estava apaixonada por outro cara. Ele ficou muito mal, mas o pior é que depois descobriu que ela estava já com o outro há seis meses!
- Nossa! Coitado!
- Eu tenho tentado dar uma força, mas nessas horas só o tempo mesmo para fazer passar a dor, né?! Ele não saiu mais de casa, ficou vários dias sem ir trabalhar, ou seja, entrou na maior depressão.
- Verdade? Mas ele já está melhor?
- Mais ou menos, cara. Conversei ontem com ele e disse que se ele não fosse ao meu aniversário hoje, ele poderia me esquecer.
- Putz, mas se o cara está mal?!
- Mas ele tem de reagir. Eu estou te falando porque pensei em você dar uma força.
- O que eu puder fazer... Mas nem o conheço.
- Eu gosto muito dele, mas como namoro, não consigo fazer ele sair junto. Acho até que você também deixou de sair com a gente por isso.
- Por mim nada a ver. É que eu tinha de maneirar mesmo.
- Então... você está solteiro (precisava jogar na cara?), seria legal ele ter alguém com quem sair e também mesmo saindo com a gente não teria problema.
- Paolo, fique sossegado. Se ele for mesmo hoje, tento ficar amigo dele, mas acho que ele não deve estar com cabeça para balada ainda.
- Bom, passo às dez na sua casa, tudo bem?
- Combinado.

4 jan

Principe Luigi

cont.

Passei o resto do dia pensando que teria de agüentar o mala na fossa. Ainda mais num pub, que fica todo mundo sentado, não teria como fugir. Mas o Paolo já tinha me ajudado tanto, não poderia deixar de ir. O jeito era rezar para que o mala ficasse na casa dele ouvindo corno music e chorando.
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